Cáritas assinala Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza
Os dias 16 e 17 de outubro remetem-nos para a reflexão sobre o flagelo da pobreza. O mundo precisa de fazer muito mais para combater a fome. Esta é uma certeza que é suportada pelos resultados do estudo[1]desenvolvido pela Caritas Internationalis, entre as suas organizações membros, no âmbito da campanha global “Uma só Família Humana, Alimento para Todos”.
O Estudo sobre Segurança Alimentar mostra que a melhor forma de reduzir o escândalo da fome de forma sustentável é apoiar os pequenos produtores. A Cáritas Portuguesa revê-se nos resultados deste estudo e acredita que, entre outras medidas económicas e políticas, o combate à pobreza passa também pelo consumo responsável.
Segundo o Banco Mundial, até ao final de 2015, o número de pessoas a viver em pobreza extrema (menos de dois dólares por dia), em todo o mundo, deverá cair 10 por centro. Passará, assim, para 702 milhões de pessoas a viver abaixo da linha de pobreza. Investimentos em educação, saúde e segurança social são fatores que levaram a esta diminuição e não podemos deixar de nos alegrar com estes dados. No entanto, há ainda muito caminho para andar!
Os números mostram que poderemos ser testemunhas e agentes de uma transformação mundial ao nível da erradicação da pobreza.
Este está a ser um ano particularmente decisivo que teve alguns momentos chave como a Cimeira para o Desenvolvimento Sustentável, que aconteceu em Nova Iorque no final do mês de setembro, na sede das Nações Unidas, e que aprovou a Agenda de Desenvolvimento Pós 2015 – a Agenda 2030 que se traduz em Objetivos de Desenvolvimento Sustentáveis – ODS. A Agenda 2030 apresenta uma visão mais abrangente e ambiciosa, onde se estabelece um conjunto de objetivos que pretendem alcançar uma erradicação global da pobreza, de forma sustentável. O destaque vai para o facto de as suas metas serem apontadas para todos os países e não mais uma agenda exclusiva dos Países em Desenvolvimento. Pretende-se assim, reforçar uma responsabilidade e solidariedade que devem ser universais.
Quando se pensa sobre as disfunções do sistema alimentar, em particular na Europa, as primeiras coisas que vêm à mente são o desperdício de alimentos e uma distribuição e consumo desequilibrados com resultados negativos no planeta, no acesso desigual à alimentação com consequências na saúde das pessoas por excesso e por falta de alimentos. A Comissão Europeia[2] estima que cerca de 100 milhões de toneladas de alimentos são desperdiçados a cada dia. Isto fere em profundidade a dignidade humana e é um sinal de desrespeito para todas as populações que enfrentam problemas relacionados com a falta de alimentos.
A rede Cáritas atua neste tema através da distribuição direta de alimentos, promovendo cozinhas comunitárias, o acesso a microcréditos ou investimentos na agricultura local. No entanto, a crescente necessidade de esses tipos de ações atuação apenas confirma uma crise mais sistémica. A resolução deste problema é possível desde que se definam etapas e se assuma uma abordagem holística. O combate à pobreza é uma realidade complexa, cujos factores são variados, mas incontornáveis a criação de trabalho e o acesso a uma metodologia educativa que não se limite apenas a aquisição de conhecimentos. Na sua encíclica “Laudato Si“, o Papa Francisco reafirmou a gravidade do escândalo da fome e da exploração incontrolável do planeta. Este é um imperativo ético que deve levar-nos a uma atitude mais respeitosa e a resultados mais felizes, permitindo a todos uma vida digna.
Também em Portugal a manutenção e agravamento das situações de pobreza e de precariedade social nos coloca um desafio, e um imperativo ético, de congregar as vontades e os recursos necessários para se encetar um efectivo caminho conducente à erradicação da pobreza. Para tal, é necessário a definição de uma estratégia nacional de combate à pobreza com objectivos claros e metas quantificáveis e observáveis, uma clara responsabilização do Estado nesse desígnio não só através de medidas concretas mas igualmente pela capacidade de gerar sinergias com todos os actores e forças sociais que acreditam que a pobreza não é uma fatalidade, que é possível construir uma sociedade mais justa, inclusiva e sem pobreza.
Direção da Cáritas Portuguesa
Deixar uma resposta